Palestra - Capivaras, carrapatos e febre maculosa
04/07/2023
Reportagem Radio AM Itatiba |
Material Adicional utilizado na Palestra |
Muito se tem falado sobre a febre maculosa, a presença de carrapatos e capivaras em áreas urbanas e peri urbanas. Existem na literatura científica muitos conhecimentos sobre a doença e sobre a ecologia das capivaras, mas nem sempre estes conhecimentos são utilizados de maneira coerente e que não evidencie um preconceito especista. A tomada de decisões com foco antropocêntrico tem levado muitas vezes a um tiro no pé, gasto ineficiente de recursos e agravamento das condições de saúde pública.
Sabe-se que a capivara só é considerada uma amplificadora da febre maculosa na primo-infecção, ou seja, apenas nas primeiras semanas de vida, quando tem contato com o agente causador de doença, é que as capivaras o transmitem aos carrapatos, e por um curto espaço de tempo. Capivaras adultas não transmitem a doença porque não apresentam o parasita circulante. A conclusão óbvia é que se somente existissem adultos em um local, não haveria transmissão.
Com a febre maculosa há entretanto muitos aspectos a serem considerados e o controle não é simples. Os carrapatos, mesmo após uma hipotética retirada de todas as capivaras de um local, ainda permanecem no local por um período que pode ultrapassar dois anos, e além disto, a febre maculosa é transmitida aos filhos do carrapato por via transovariana.
É fato conhecido que a retirada total de todas as capivaras de um local, somente será eficiente se for impossível a reintrodução de novos indivíduos. Há que se considerar também que não haverá outros animais no local tais como cavalos, bovinos, gambás e outros ainda em pesquisa.
As capivaras são animais territorialistas e defendem seu espaço. A retirada de uma família abre espaço para outra, que encontrará condições para reprodução rápida, e consequentemente um maior número de filhotes, o que acarreta um alto risco de transmissão da febre maculosa. Será então a solução tornar os locais armadilhas e abatedouros constantes de capivaras para se evitar a doença?
Existem propostas de contornar a questão através de controle populacional de capivaras e controle de carrapatos.
Se em um determinado espaço de tempo fosse feita a vasectomia nos machos e a ligadura do oviduto das fêmeas, em poucas semanas o risco de transmissão cairia drasticamente, uma vez que sem filhotes não há transmissão.
Os carrapatos porém, nascidos até dois anos depois ainda apresentariam risco. Uma possibilidade é que os ceveiros (pequenos currais construídos para atrair e capturar as capivaras) sejam utilizados também para borrifamento de carrapaticidas sobre as capivaras, que uma vez soltas, passariam a agir como controladores dos carrapatos pelo ambiente. Obviamente, nem tudo acontece como o previsto em biologia, e pode acontecer resistência aos carrapaticidas, o que demanda monitoração e pesquisas constantes.
O extermínio sistemático de capivaras de determinado local, já demonstrado em experiências anteriores, tem pouco resultado prático. O sofrimento dos animais desalojados e sacrificados não é computado porque não é visto e nossa ética vai apenas onde nossa visão alcança.
O que é febre maculosa?
É uma doença transmitida pelo carapato-estrela ou micuim da espécie Amblyomma cajennense infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii.
Esse carrapato hematófago pode ser encontrado em animais de grande porte (bois, cavalos, etc.), cães, aves domésticas, roedores e, especialmente, na capivara.
Para haver transmissão da doença, o carrapato infectado precisa ficar pelo menos quatro horas fixado na pele das pessoas. os mais jovens e de menor tamanho são vetores mais perigosos, porque são mais difíceis de serem vistos.
Quais os sintomas da febre maculosa?
Os principais sintomas de febre maculosa incluem febre acima de 39ºC e calafrios, dor de cabeça intensa, conjuntivite, náuseas e vômitos, diarréia e dor abdominal, dores pelo corpo (principalmente nas coxas, penas e barriga), insônia e dificuldade para descansar, inchaço e vermelhidão nas palmas da mãoe sola dos pés, gangrena nos dedos e orelhas, paralisia dos membros que inicia nas pernas e sobe até os pulmões causando parada respiratória.
Caso apresente esses sintomas, procure uma unidade de saúde e informe que foi picado pou um carrapato, ou esteve em uma área com possível infestação de carrapatos.
Como prevenir a febre maculosa?
Para nossa prevenção , precisamos redobrar a atenção ao frequentar locais com vegetação e beiras de lagos, evitando assim o contato com o carrapato estrela. Quanto mais rápido uma pessoa retirar os carrapatos do corpo, menor será o risco de contrair a doença. Nos casos de contato com áreas com presença de carrapatos, recomenda-se o uso de mangas longas, botas e calça comprida com a parte interior colocada por dentro das meias.
Dar preferência para roupas de cor clara, para facilitar a visualização dos carrapatos. Após a utilização, colocar todas as peças de roupas em água fervente para retirada dos mesmos.
Como tratar a febre maculosa?
O tratamento precose é essencial para evitar formas mais graves da doença. É importante procurar unidade de saúde em caso de suspeita da febre maculosa.
O tratamento se dá com o uso de antibiótico. O sucesso do tratamento, com consequente redução da letalidade, está diretamente relacionado à precocidade de sua introdução e à especificidade antimicrobiano prescrito.
A FEBRE MACULOSA TEM CURA, MAS SE NÃO FOR TRATADA PODE MATAR.
LEMBRE-SE
Os animais não são vilões. Vamos nos proteger.
Não deixe seu cão ou gato circular próximo aos locais com mato, pois o animal pode trazer carrapatos para a sua casa.
Fonte: www.olharanimal.org
Por Leonardo Maciel